«Ficou só, no meio do passeio. Em vez de atravessar para a margem do rio, naquele local coberta com armazéns e barracões, seguiu uma rua cercada de velhos edifícios e foi dar, algumas ruas mais tarde, ao Terreiro do Paço. Esteve cerca de uma hora sentado no cais, ora a olhar a escuridão das águas, ora a estudar a configuração difusa da praça. Desembocava ali a sua vida, ou aquilo que fora até então. Percebia que algo mais estaria para diante, semelhante ao voo de uma gaivota em tempo de chuva. Diáfano o que pressentia e não via nos contornos da luz porque ou cego ou excessivamente apegado ao real que escolhera como estado de ser. As arcadas trouxeram-lhe a dúvida do tempo. Irrepetíveis os instantes, inatingível o que foi, ou a circularidade de uma ilha, do mostrador de um relógio? Não passavam os ponteiros pelos mesmos números doze em doze horas? Talvez o mundo não fosse mais do que uma ilha no universo imenso de estrelas e pulsares.»
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- Índice
- Parte I
- O Jantar de despedida
- Golpe de karaté
- A praxadela
- A topográfica
- Parte II
- Patadas à ordem
- Flamengos
- A menina dos jornais
- Cruzeiro do Canal
- Histórias
- Parte III
- Manobras
- Campo aberto
- Central rádio
- A manhã
- Parte IV
- A gorda
- Uma questão subnatural
- A boate do hotel
- O louco da Horta
- Parte V
- Manutenção
- Fora de questão
- A cela
- Raposo
- Parte VI
- A inspeção
- A estrada para o inferno
- Medeiros
- Parte VII
- Açoriana
- O Mesmo caso
- O Jogo
- Uma linha
- Parte VIII
- Verticais ao mar
- O Baile
- Muitas palavras
- Santa Apolónia