José Maria de Andrade Ferreira dividiu em «épocas» o seu Curso de Literatura Portuguesa. Seguiremos este roteiro, que não desmerece comparando aos anteriormente seguidos. Os diversos historiadores demarcaram a seu arbítrio os períodos em que as letras se manifestaram com diversa feição, quer progressiva, quer decadente. Alguns, abrindo profunda barreira entre as quadras literárias, estremaram os períodos em idade de ouro e de ferro, como se depois do luminoso século XVI, desde o fim do reinado de D. João III até D. João V, não tivéssemos literatura digna de história e de estudo. É um preconceito inveterado e falsamente legitimado por escritores respeitáveis que exauriram a sua admiração nos exemplares da Renascença, e só volveram a soldar a cadeia quebrada do nosso progredimento intelectual quando os árcades, exercitando a ode horaciana, à feição de Pedro António Correia Garção e António Dinis da Cruz e Silva, se consideraram sucessores aperfeiçoados de Ferreira e Camões.