Aos vinte e um de Março do corrente ano de mil oitocentos e cinquenta e seis, pelas onze horas e meia da noite, fez justamente quarenta e sete anos que o Sr. João Antunes da Mota, morador na Rua dos Arménios, desta sempre leal cidade do Porto, estava em sua casa. Até aqui não há nada extraordinário. O Sr. João Antunes podia estar onde quisesse. A história assim começa fria e desgraciosamente. É uma espécie de Anjo do Nascimento. A descrição de uma tempestade, saraiva a estalar nas vidraças, o vento norte a assobiar nos forros, o arvoredo secular a ramalhar rangendo, e duas dúzias mais de caretas que a natureza faz à humanidade espavorida, e que os romancistas, desde Longo até nós, descrevem com invariável frase em todas as ocasiões que lhes não ocorre outra coisa...