"Durante semanas, Duarte viveu deslumbrado na visão duma Epopeia maravilhosa, palpitando de emoção, sentindo crescer o seu entusiasmo por essa França que era a educadora dos povos latinos, a criadora de civilizações, a mãe espiritual da Europa moderna. Mas o seu ardor arrefeceu quando certa manhã teve de seguir para um campo de manobras, onde o contingente português ia adestrar-se nos processos duma guerra que já não era de movimentos mas de posições, imobilizando-se em combates constantes de trincheira para trincheira. Fazia frio, um frio intenso que o gelava, o transia. A terra estava coberta duma espessa camada de neve que a endurecia, que o fazia sofrer e lhe despertava saudades infinitas do seu país de sol, de céu luzente e de temperatura suave. Uma vida ignorada começava para ele. Parecia-lhe que fora, de repente, transportada para fora da realidade. Esta obcecação mergulhava-o num alarmante estado de tristeza. Para se distrair, para esquecer, aturdia-se no tumulto dos exercícios militares, cumpria rigorosamente os seus deveres de oficial, consagrando-se à instrução dos que iam dar a uma causa justa e humana a onda vermelha e fertilizadora do seu sangue generoso."
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