Estas cartas, escritas em viagem, ao correr da pena, e sem outra pretensão além de entreter o endereçado, deviam, assim mesmo singelas e correntias, ser acompanhadas de um estudo sobre o homem, o artista e a sua obra. Isso daria talvez algum interesse ao livro em que aparecem reunidas. Mas ainda quando me sentisse com pulso para empreender e levar a cabo trabalho semelhante, recusar-me-ia a fazê-lo. E não era somente pelas sérias dificuldades que ele ofereceria, a quem se encontra impossibilitado de rever e considerar novamente a grande quantidade de pinturas, em tão diversos géneros e maneiras, que deixou. Para escrever desafogadamente acerca do Columbano, não omitindo a rasteira verdade a par da brilhante, seria preciso que eu morresse e ressuscitasse já livre da amizade que lhe dedicava, mas sem a sensibilidade embotada. Escrever agora sobre o homem, sobre o artista, equivaleria a desfazer-me da sua imagem, liquidar recordações que me andam no tesouro da alma, separar-me para sempre de alguém que, por exceção talvez única, a morte não conseguiu afastar da minha companhia.