Amor de salvação, em muitos casos obscuros, é o amor que excrucia e desonra. Então é que o senso íntimo mostra ao coração a sua ignomínia e miséria. A consciência regenera-se, e o coração, reabilitado, avigora-se para o amor impoluto e honroso. Assim é que as enseadas serenas estão para além das vagas montuosas, que lá cospem o náufrago aferrado à sua tábua. Sem o impulso da tormenta, o náufrago pereceria no mar alto. Foi a tempestade que o salvou. Além de que a felicidade, como história, escreve-se em poucas páginas: é idílio de curto fôlego; no sentir intraduzível da consciência é que ela encerra epopeias infinitas – enquanto que a desgraça não demarca balizas à experiência nem à imaginação. Para o amor maldito, duzentas páginas; para o amor de salvação, as poucas restantes do livro. Volume que descrevesse um amor de bem-aventuranças terrenas seria uma fábula.