Tentar fazer um romance é um desejo inocente. Baptizá-lo com um título pomposo é um pretexto ridículo. Apanhar uma nomenclatura, estafada e velha, insculpi-la no frontispício de um livro, e ficar orgulhoso de ter um padrinho original, isso, meus caros leitores, é uma patranha de que eu não sou capaz. Este romance não é meu filho, nem meu afilhado. Se eu me visse assaltado pela tentação de escrever a vida oculta de Lisboa, não era capaz de alinhavar dois capítulos com jeito. O que eu conheço de Lisboa são os relevos, que se destacam nos quadros de todas as populações com foro de cidades e de vilas. Isso não vale a honra do romance. Recursos de imaginação, se os eu tivera, não viria consumi-los aqui em unia tarefa inglória. E, sem esses recursos, pareceu-me sempre impossível escrever os mistérios de uma terra, que não tem nenhuns, e, inventados, ninguém os crê.