Este estudo pretende mostrar o ambiente de «guerra religiosa» que se viveu em Portugal nos primeiros anos da I República (1910-1917), provocada por uma legislação que intentava ser o suporte ao processo laicizador considerado indispensável à construção de um Estado moderno. As populações nem sempre se mostraram submissas, recusando-se a abandonar crenças e tradições em obediência a decretos redigidos por livres-pensadores que não aceitavam os quadros mentais e sociais existentes. O combate fez-se sentir em diversas frentes: na escola, no registo civil, nas corporações cultuais, nas normas restritivas aos actos de culto, no consentimento ou na rejeição de padres que aceitaram integrar-se no programa republicano. Mais do que o debate político-ideológico, preferiu-se captar atitudes e comportamentos, reveladores do sentir de homens e mulheres, apanhados no agitar de ideias das primeiras décadas do século XX.
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- Apresentação
- Prefácio
- Introdução
- Capítulo I. O clero e a república – da expectativa benevolente ao episódio da pastoral
- 1. As reacções às primeiras leis que atingiram a Igreja Católica
- 2. Os problemas com as novas comissões paroquiais
- 3. A primeira tomada de posição dos bispos. O episódio da pastoral
- 4. Perturbações nos povos relacionadas com a pastoral
- Capítulo II. A igreja católica perante a lei da separação
- 1. O protesto dos bispos
- 2. O receio do Governo
- 3. A reacção do baixo clero
- 4. O jacobinismo perante a recusa das pensões
- 5. A vigilância sobre os sacerdotes
- 6. A questão das vestes talares
- 7. Os padres e as conspirações monárquicas
- 8. A expulsão das residências paroquiais e as penas de desterro
- 9. A perda dos cartórios paroquiais
- 10. A situação religiosa em Portugal olhada do estrangeiro
- 11. A política anti-religiosa e as confissões não católicas
- Capítulo III. Padres pensionistas e padres não pensionistas
- 1. A rejeição das pensões
- 2. Guerra entre pensionistas e não pensionistas
- 3. As discórdias no seio das populações
- 4. O agravar da questão a partir de Julho de 1912
- 5. O abandono das paróquias
- 6. Em auxílio dos não pensionistas
- 7. Os padres que se casavam
- 8. Uma república de padres...
- Capítulo IV. As associações cultuais
- 1. A posição da Igreja perante as corporações cultuais
- 2. A constituição das primeiras cultuais – um processo pleno de hesitações e de receios
- 3. As cultuais constituídas
- 4. O carácter laico das cultuais
- 5. As orientações da Igreja
- 6. Situações de conflito provocadas pelas cultuais
- 7. As cultuais em Lisboa
- 8. Os governos de Pimenta de Castro e Sidónio Pais perante as cultuais
- Capítulo V. O «povo» contra o «povo»
- 1. O “bom povo republicano”
- 2. A iconoclastia
- 3. Acções de coacção sobre os crentes
- 4. As organizações de enquadramento do “bom povo republicano”
- 5. A multidão dos silenciosos e invisíveis
- 6. As armas da Igreja
- Capítulo VI. A revolta no mundo rural – em defesa dos bens da igreja e dos seus sacerdotes
- 1. Revoltas populares contra os arrolamentos
- 2. A desconfiança para com a gente “da vila”
- 3. Por trás dos motins estariam os padres?
- 4. Redes de cumplicidade para salvar os bens da Igreja
- 5. Os problemas com as residências paroquiais
- 6. O atraso nos inventários
- Capítulo VII. Os conflitos em torno do culto religioso
- 1. A laicização do espaço público e as barreiras levantadas às procissões religiosas
- 2. As dificuldades levantadas à condução do viático e aos funerais religiosos
- 3. A Visita Pascal no centro de muitas tensões
- 4. Os actos de culto após o pôr do Sol
- 5. As questões em torno dos sinos
- 6. Os problemas com o culto interno
- 7. Igrejas que eram encerradas
- 8. Um olhar do poder político sobre a religiosidade dos portugueses
- 9. A transferência do sagrado – as festas de substituição
- Capítulo VIII. As tensões em torno da obrigatoriedade do registo civil
- 1. A opção revolucionária pelo registo civil
- 2. O extremar de posições
- 3. Os “padres civis”
- 4. Os padres acusados de hostilidade para com o registo civil
- 5. As populações perante o registo civil
- 6. Os funerais no centro das tensões
- 7. A laicização dos cemitérios
- Capítulo IX. Na frente do combate – a escola
- 1. O laicismo republicano contra a escola confessional
- 2. Em torno da “neutralidade” do ensino
- 3. O professor primário como agente de republicanização e descristianização
- 4. Os professores católicos
- 5. Colégios portugueses, de carácter confessional, no estrangeiro
- 6. Seminaristas e ex-seminaristas
- Capítulo X. A aplicação da lei da separação
- 1. A diversidade de actuação das autoridades perante as medidas anti-religiosas
- 2. A vigilância sobre o poder judicial
- 3. Mecanismos de controlo dos magistrados
- Considerações finais
- Fontes e bibliografia
- Índice onomástico
- Índice toponímico
- Índice geral
- Resumo / abstract